EXISTE IDADE CERTA PARA SE APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA?

EXISTE IDADE CERTA PARA SE APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA?

Segundo pesquisa recém-divulgada pelo renomado MIT (Massachusetts Institute of Technology), existe uma “janela de oportunidade” etária para se aprender um idioma com proficiência semelhante a um falante nativo. Segundo essa pesquisa tal “janela” se estende até cerca dos 18 anos de vida, capacidade que começa a se perder após a entrada na vida adulta.

Ainda segundo estudos, o bilinguismo ou até o multilinguismo, pode ser praticado até com bebês, mas ainda que a criança comece a aprender por volta dos 10 anos de idade, ela consegue atingir o mesmo patamar de proficiência; porém, após essa idade é possível observar um declínio. Não se sabe se o declínio observado a partir dos 17, 18 anos se deve às mudanças biológicas do cérebro ou a fatores sócio-culturais, segundo o coautor do estudo e professor de Ciências Cognitivas no MIT.

Mas adultos não devem perder o ânimo em aprender um idioma: apesar das dificuldades maiores em relação às crianças, eles também são capazes de adquirir um bom conhecimento da língua, devido à neuroplasticidade do cérebro.

A aptidão humana para a linguagem é inata, desenvolvendo-se a partir dos primeiros meses de vida, com diferenças entre o processo de aquisição da língua materna e a aprendizagem de uma segunda língua. O processo de aquisição da língua que aprendemos desde bebês, em casa e na comunidade da qual fazemos parte, é subconsciente, natural e intuitivo; aprendemos e falamos sem ter consciência dos processos em questão.

Sabe-se que o sistema nervoso central humano tem quase cem bilhões de neurônios e que nos primeiros anos de vida há um desenvolvimento neuronal enorme, com conexões entre as células nervosas que formam circuitos cada vez mais intrincados. A plasticidade cerebral significa que os neurônios podem modificar sua função e forma em resposta a ações do ambiente externo. Este processo é maior na infância e vai declinando, sem, porém se extinguir. Conforme estabelecemos contato com o meio e interagimos com ele, um número cada vez maior de conexões vai sendo consolidado. Assim ocorre com o aprendizado das línguas: elas são aprendidas com bastante facilidade e quase sem prejuízo nas estruturas gramaticais, pronúncia e sotaque antes da puberdade, o que não significa dizer que o adulto não consiga aprender, mas o faz, geralmente, com esforço maior. Além disso, aprender um novo idioma na vida adulta faz bem ao cérebro e pode até mesmo retardar possíveis doenças de degeneração cerebral, como a demência, segundo outras pesquisas prévias.

Outro fator fundamental a ser observado nas diferenças de aprendizado entre crianças e adultos é o fator emocional. As crianças não têm ansiedade para aprender idiomas, elas não são sobrecarregadas pela crença de que não podem aprender uma língua, ou pela autocrítica excessiva.

Sabe-se que as emoções têm grande importância para a aprendizagem, uma vez que estão intimamente ligadas à cognição e a formação de memórias: elas podem tornar qualquer aprendizado inesquecível, como podem também bloquear a memória. Quanto mais emoções positivas no ambiente de ensino, mais condições favoráveis para o sucesso na aprendizagem. Por outro lado, as emoções negativas como ansiedade e estresse podem ser prejudiciais, surtindo efeito contrário. As primeiras aumentam a produção do hormônio neurotransmissor dopamina, o hormônio do prazer, enquanto as últimas aumentam a produção do cortisol, o hormônio do estresse, fazendo com que importantes áreas cognitivas do cérebro fiquem comprometidas, prejudicando a transformação de inputs em memórias de longo prazo.

É preciso ainda um senso de realismo no propósito que temos ao estudar uma língua estrangeira, para que se possa estabelecer metas realísticas. Segundo a pesquisadora Danijela Trenkic, da Universidade de York, “Você pode ser um excelente comunicador, mesmo sem ser um falante nativo ou mesmo sem acertar a gramática de todas as sentenças”. E mesmo que um adulto estudante de línguas tenha mais probabilidade de falar com sotaque, não haverá nenhum impedimento desde que isso não prejudique a inteligibilidade.

A neurociência é de enorme importância quando tomamos a decisão de aprender uma língua estrangeira, pois tendo a compreensão de como este processo ocorre dentro do nosso cérebro e quais fatores podem influenciá-lo, poderemos escolher métodos, técnicas, abordagens e recursos que privilegiem uma aprendizagem mais significativa e duradoura.

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