O Filtro Afetivo no Aprendizado de Línguas

O Filtro Afetivo no Aprendizado de Línguas

Muitos adultos ainda se deparam com um ponto crucial na carreira onde precisam dominar o idioma inglês por uma questão de sobrevivência profissional. Seja porque não tiveram a oportunidade de aprender mais cedo, seja porque particularmente não gostavam da matéria nos tempos da escola, o fato é que muitos ainda travam esta luta que muitas vezes pode virar um monstro de sete cabeça.

O inglês tornou-se a língua de globalização, é o idioma que liga todos os povos, o idioma dos estudos e do trabalho, das comunicações, dos esportes, das artes assumindo, aos poucos, o papel originalmente designado ao Esperanto, língua criada para ser o idioma universal. Não se faz mais tanta diferenciação entre inglês americano ou britânico, o idioma em questão foi batizado de Global English. Não falar inglês hoje em dia pode limitar muito a vida das pessoas, criando até mesmo problemas de autoestima. Da mesma forma, falar mal, ou ter uma forte influência da língua materna, seja na pronúncia, seja na forma de se expressar, também mexe com a autoestima das pessoas. Como, então, vencer esta batalha?

Por um lado, as pessoas acabam por superestimar as situações em que terão que se expressar em inglês, como também os interlocutores com quem deverão interagir. Por ser a língua universal e o meio de comunicação entre os povos, não podemos esquecer que grande parte das vezes iremos nos comunicar com outros estrangeiros que falam inglês, muitas vezes com problemas de aprendizagem ou inibição iguais aos nossos. Recentemente preparei uma coachee para uma entrevista de trabalho numa multinacional farmacêutica; fizemos todo o processo de preparação com muita preocupação quanto ao entrevistador, pois por melhor que fosse o inglês da candidata, ela ainda se sentia insegura para interagir com a pessoa de origem estrangeira. Para nossa surpresa a entrevistadora era italiana, falava inglês fluente, é claro, mas com ritmo mais lento e forte sotaque da língua mãe. Foi o suficiente para deixá-la mais à vontade e ter um desempenho acima do esperado.

Por outro lado, é preciso observar aquilo que Krashen, linguista renomado e professor emérito da University of South California, conhecido por sua Teoria da Aquisição da Segunda Língua, chamou de “Filtro Afetivo”. Ele dizia que as condições físicas e emocionais em que a pessoa aprende podem interferir na qualidade do aprendizado. Por condições físicas podemos entender desde as mais básicas necessidades humanas, como dor, fome, frio, sede ou vontade de ir ao banheiro; já emoções negativas tais como medo, ansiedade ou vergonha também pesam no processo de aprendizagem. Se o aluno se encontra em qualquer uma das condições acima é grande a chance de que não haja aprendizado satisfatório naquele momento.

Quem nunca teve um professor de quem não gostava resultando em pouca ou nenhuma aprendizagem da sua matéria? O relacionamento entre aluno e professor é outro fator emocional crucial para um bom rendimento didático. A neurociência comprova que o estado emocional negativo pode desencadear reações no sistema límbico, causando um efeito negativo nas duas maiores áreas do cérebro – o córtex pré-frontal e o hipocampo, áreas essenciais para o aprendizado.

O lado afetivo da aquisição de uma língua tem sido cada vez mais objeto de estudo da neurolinguística, e pesquisas sobre a afetividade na aquisição de uma língua mostram forte relação entre variáveis afetivas e proficiência, destacando o papel interdependente que a linguística, a cognição e o afeto têm na aquisição de uma segunda língua.

Ainda segundo Krashen, o aprendizado deve ocorrer como o subir de uma escada, sempre com um desafio um pouco acima do conhecimento já obtido, teoria semelhante às Zonas de Desenvolvimento Proximal, de Vygotsky.

Sendo assim, um planejamento personalizado, feito cuidadosamente entre coach e coachee, com etapas, metas e um bom relacionamento, trabalhando dificuldades específicas e desconstruindo mitos, é uma estratégia sábia e contemporânea para vencer esta batalha e introduzir o coachee no mundo globalizado com confiança e desenvoltura.

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