Língua Franca é um idioma de contato que um grupo de falantes multilíngues desenvolve ou elege intencionalmente para que todos consigam se comunicar uns com os outros. Em geral essa língua é diferente de todas as línguas faladas no grupo.
A primeira língua franca de que se tem conhecimento surgiu no século XVII na região do Mediterrâneo, e era formada por vocábulos da língua italiana despidos de suas complexas flexões. O comércio havia ganho maior intensidade naquela área, atraindo mercadores de diversas partes que vinham mostrar, trocar, comprar e vender seus produtos. Havia então uma língua franca que unia todos em função de interesses comerciais.
No final do século XIX, o filósofo polonês Lazarus Zamenhof criou uma língua para ser adotada como o idioma único da humanidade, unido povos e nações, o Esperanto. Era um idioma simples, com apenas 15 mil vocábulos e 16 regras gramaticais. Mas sendo artificial, sem o conhecimento ou o sentimento de um povo na sua formação, o esperanto não vingou em seu propósito inicial.
Ao longo do século XX, então, por motivos políticos, econômicos, culturais, a língua inglesa naturalmente ocupou este posto ao redor do planeta, tornando-se o idioma mais usado como meio de comunicação entre pessoas que não falam a mesma língua. O “market place” da região mediterrânea foi substituído pela Internet. Pessoas das mais diversas origens aprendem inglês para se comunicar não somente com falantes nativos da língua inglesa, como também com falantes de qualquer outro idioma que possam se comunicar em inglês. Este é o conceito do International English, Global English ou Inglês como Língua Franca.
E o que muda para aqueles que precisam aprender inglês como forma imperiosa de sobrevivência no mundo globalizado? Ficou melhor ou pior? Mais fácil ou mais difícil?
Em tese, quando se aprende um idioma, não é apenas a língua que conta, mas a cultura e a identidade estrangeiras também são transmitidas, pois uma língua é mais que um instrumento de comunicação, ela representa a identidade de uma nação, de um povo. O que muda com o conceito de Língua Franca, é a quebra da crença de que para se falar bem o inglês é preciso copiar o modelo do falante nativo, é preciso eleger uma pronúncia e um léxico regionais, seja britânico ou americano, e permanecer fiel ao mesmo modelo e à sua identidade cultural em toda e qualquer circunstância. A pedagogia do ensino moderno de inglês elege a interculturalidade como elemento central, alçando o professor não nativo à condição de mediador intercultural, facilitador do acesso que seu aluno precisa à comunicação internacional.
O Inglês Internacional, ou International English, resulta do contato entre os usos da língua inglesa por falantes nativos, que têm o inglês como língua mãe, falantes de países onde o inglês é a segunda língua ou tem status de língua oficial por questões histórico-culturais, e falantes de países onde o inglês é considerado língua estrangeira. Na realidade, não existe um padrão neutro internacional criado especificamente como International English que seja usado como referência de ensino. Existe, sim, uma exposição dos alunos às mais diversas formas de expressão referentes a todas as origens mencionadas. Levando-se em consideração a diversidade das realidades culturais envolvidas, a velocidade com que o conhecimento é transmitido hoje em dia, e o dinamismo intrínseco à evolução e transformação das línguas, seria praticamente impossível a criação de um idioma único padronizado que assumisse esse papel por algum tempo indefinido. O aprendiz curioso deve ficar a par do que acontece no uso da língua ao redor do mundo, da maneira com que se expressa em inglês determinado conceito na Inglaterra, Estados Unidos, na África ou na China.
Para os desavisados de plantão, é preciso entender que o conceito de língua franca não significa que liberou geral, que qualquer pessoa que conheça a língua pode ensiná-la. Falar bem inglês continua significando falar corretamente. O que cai por terra é a crença de que falar bem inglês significa ser uma cópia fiel do falante nativo e que, neste caso, o melhor professor é o falante nativo da língua; o melhor professor continua sendo aquele que estudou para exercer a profissão, aquele que é habilitado, licenciado para fazê-lo; é o profissional especializado. Quando me fazem a pergunta “mas não é melhor aprender com um nativo?”, eu pergunto de volta “você seria capaz de ensinar a sua língua?”. A esmagadora maioria responde que não.
Portanto, a língua inglesa continua a mesma, e comunicar-se através dela tem o mesmo peso hoje que ser alfabetizado ha um tempo atrás. Porém o papel da língua inglesa hoje faz com que ela deixe de ser uma expressão restrita à cultura de seus povos, ampliando de maneira quase irrestrita a influência que recebe de todos os povos que a usam.